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Na vermelhidão dos teus olhos azuis

Na vermelhidão dos teus olhos azuis
Vi o enfado dos teus dias:
Correr, correr, em busca de um pôr-do-sol
Em que as horas não sejam marcadas pelo martelo e sua batida fria

A labuta se descreve no contorno dos teus calos
E tua história se vê esculpida nas cicatrizes da mão.
Tua disputa, tão breve, e teu doloroso desmaio
Fugirá da memória pervertida dos matizes do chão.

A terra te é um campo de sofrimento
E tudo o que se ergue sobre ela, ela destrói.
Teus olhos em busca do alento no firmamento
Encontram apenas o sol que na luz tua retina corrói.

Tua força que retira da tua obra
Nela volta a depositar,
E teu esforço sempre retorna
Aonde antes veio brotar.

Contar teus dias seria estupidez
Pois comparados pareceriam um só,
E nem os momentos de torpe cupidez
Te salvariam de retornar ao pó.

Mas muitas são as virtudes e os dissabores do lobo:

Na solidão da noite
Onde seu inferno se lança
Uiva pro céu
Despido de esperança.

Corre pela savana
Em busca da fonte e do rio.
Sua força vem da caça
Mas seu espírito do desafio:

De continuar mais um dia sobre a terra,
Carregar o inferno para além do vazio.

E lembrar no dia em que a morte se acerca
De depositar nos ossos toda a dor e todo o frio

Para que no mundo do espírito não tenha na certa
O olhar do moribundo e o pensamento vazio.