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Dor

No sonho daqueles que nos perderam

No sonho daqueles que nos perderam
Somos a nódoa da sombra
Que embranquece a luz.
E inerentes à coloração dos mortos nos fizeram,
Perdidos sob a relva,
À sustentar uma cruz.

E nos deram motivos para chorar à noite.
E nos deram lembranças e carinhos de açoite.
E nos fizeram voltar ao chão.

E singramos como os vermes
As paragens do húmus
Enquanto a mente estéril concerne
Os erros que ergueram nossos túmulos.

E as lembranças de quando éramos vivos
Nos escorrem da boca feito néctar sangüíneo.
Cavando túneis onde não chega o som dos sinos
O lembrar se transforma num caminho retilíneo.

E do transformar da sombra em sombra
É que se ergue a nossa mágoa.
Pois em pensamentos dividimos águas
Mas em toda fútil fúria nossa alma se assoma.

Pois ninguém nos rasga a carne na cama.
Pois ninguém nos compra a alma de lama.
Ninguém nos chama. Ninguém nos ensina.
Ninguém nos faz chorar.

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Apokolips

O Túmulo do Desconhecido

Eu queria ter lido teu nome no epitáfio,
Mas a ruína já apagou os escritos do teu túmulo
E nem o tato da palma da mão foi capaz
De sentir os sulcos que nomeavam a tua vida fulgaz.

E mesmo com as glórias de um batismo pagão ou santo
Seu nome, como qualquer outro,
Não resistiu para soprar palavras sem significado
À este futuro aos teus olhos ocultado.

E por forte, ou vivaz, ou estúpido, ou prepotente, ou caridoso
Que tenha sido o seu vôo
Foste abatido como qualquer um
E lançado ao chão distante do azul.

E por mais que tenha escrito
Ou edificado;
Apagado, animado
Ou pervertido,

Não sobrou marca alguma que indique
Como você era chamado ou conhecido.
Não há nada que explique
O porque do túmulo aqui erguido.