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Noite

Antes da tarde

Antes da tarde
A noite versejava
Buscando o teor da rima correta
Que vagueava pelas paragens do dia.

Tardia veio com seu manto
A sentar-se por sobre montes e verdes campinas
A divagar sobre sinas eternais.

Nesse dia, Tarde, que maior,
Estendeu-se às paragens do relento
E sem tempo
Viu-se indignada com a preguiça da irmã:

– Afã – disse – é uma coisa boa,
Desde que vida não se entenda com seriedade,
Mas, à toa.

– Boa – argumentou – é a leoa
Que espera o parto
Caçando o veneno dos insetos
Que perpétuos
Andarão nas garras dos seus filhos.

A noite, com a pena à mão,
Estendeu seu manto
E com o pranto
Depositou na terra
A rima tardia,
Que arredia,
Encerra o mistério do sol.

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Suave coisa, suave coisa nenhuma

Espero a tarde

Espero a tarde
Como se ela fosse o meu lar.
Espero a tarde
Como se não houvesse o que mais esperar.

Espero
Porque a tarde vem cheia de esperanças,
Espero
Porque a tarde tem promessa de fragrâncias.

Tarde.
Alguns dizem: antes tarde do que nunca
Mas essa tarde tarda tanto
Faz com o tempo brincadeira maluca

Tarde:
Na beira do precipício te espero
Sentado a cismar sobre todas as sinas.
Eu caminhei muito e agora farto fico aqui
A contemplar o horizonte esperando e esperando.

A espera é tudo o que me resta.
Quero seus tons vermelhos de final de festa.
Quero o céu ensangüentado sem uma única fresta

De azul onde o nada possa contemplar.
O azul do dia não me interessa
Nele não há nada que possa me amparar.

Esse é o desejo que no meu peito arde!
E não há outra coisa que o possa apaziguar!
Vai! Morram Tempo e Espaço!
Deixem de me torturar!

Quero apenas a tarde!
Porque quando esta tarde chegar
Desfazendo todo o meu embaraço
Minha amada há de descansar

    Nos meus braços…