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Certas mulheres

Afrodite

Às vezes quando de saudade sou tomado
Desço até o verde e gracioso prado
E com os dedos relva fico a arrancar.

O prado é calmo e tranquilo
E um pouco do teu colo sinto e me rejubilo
Desfazendo a miúdo o vazio que estava a se instalar.

“Quase um nada, quase um nada” – eu digo.
E a sensação que trago comigo
Quase me leva a sufocar.

Morena, Morena,
Por que me levaste pelos dedos de tua mão
Ao recôndito onde sabores são para se desfrutar?

Pequena Helena
Querias carícias dignas de dia de verão
E harpas e pífaros a bradar?

Eu que sou só tristeza
(E é tudo que no meu olhar talvez veja)
Nada mais tinha para lhe entregar.

Gesto da minha alma
Que se desvanece diante da carne nua.
Tocar-lhe morena me tira a calma
E eis-me solitário licantropo adorador da lua.

Não me roube o derradeiro alento:
Teu hálito doce, teu beijo suculento.
Teu corpo belo, das mãos de deus rebento.

Ah! Esse deus que se esmera em me tirar a paz!
Criou esta última fera de olhos negros e trato voraz!
De belos seios e corpo capaz

De ao mesmo tempo doar e tomar
Tudo o que há em mim e tudo o que um dia hei de me tornar.

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Certas mulheres

A libido torna-se palpável

A libido torna-se palpável
E toma forma.
E com seus novos trajes corporais
Se adorna

E sem demora diz:
“É aquela mulher
Com a qual meu desejo condiz!”

E assim pela volúpia acercada
Se vê em êxtase enredada
Tal qual adolescente no regaço da amante.

Em tal prisão se vê triunfante.
Em tal claustro se faz viandante

Pela imaginação luxuriosa
Que cria cenas seviciosas
Servindo à serpente à sarça enroscada ardente.

E tal qual esse réptil inconsequente
Queria fincar meus venenosos dentes
E roubar da vida,
E em meio à vida convalescente,
A carne dessa mulher que dos seios melonáceos possuidora
Jaz no rol das sedutoras
Capazes de fazer à outrem
As insinuações do êxtase e da dor.

Tão duro conquistar-lhe pela flor.
Tão difícil levá-la ao leito de amor

Quando das paragens vespertinas
É a inerência do desejo
Ou quando nossas propinas
São tão parcas que nos provocam o medo
De perder a oportunidade única
De roubar-lhe sequer um beijo.