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Algum Ódio

Uma era se vai

Uma era se vai
E outra se levanta.
As coisas são como são: se sucedem.
Isso não me espanta.

Deixar para trás
Faz parte do processo,
E ficar possesso,
Não dar vazão à paz,

É uma grande besteira.

As multitudes vêem
Os períodos glórios
Como imbatíveis territórios
Ou obeliscos gigantescos,

Mas para forjar pretextos
Ante à passagem do tempo
Erguem altares à ídolos adornados de adereços
Aos quais louvam mesmo diante do rugir do erosivo vento.

Então, assim não se adapta ao novo
A mente humana,
Essa analfabeta insana
Que se julga detentora do poder ao impedir o quebrar do ovo.

Bem, de fato não o impede,
Mas prefere viver em mundos virtuais
Onde o pássaro-demônio ainda nem passou
Do que observar a casca que diante de si cede
Ante as investidas cerberais
Da noite que ali se ocultou.

E quando o recém nascido
Estende suas asas flamígeras
Abarcando toda extensão do manto noturno,
Essa velha afirma ver o mesmo cansado sol enfraquecido
Na já conhecida celeste abóboda ridícula
Sob um ar causticantemente diurno.

Arranquem os olhos então!
Cegos!
E vejam!
Nessa cruz não há pregos!

Nem sangue!
Nem mártir!
O tempo já deixou à parte,
Por sob a terra,
Esses ares aos quais fazem tal alarde!

Não é hora de se masturbar
Em nome da moribunda esposa!
É hora de nova amante!
Nova alcova!

É hora de novos demônios enfrentar
E deixar velhos guerreiros
Finalmente e impostergavelmente
Ao descansar!

Por isso
Assassinai os ídolos!
Buscai nos vestíbulos
Pelas sombras do passado,

Mas por favor,
Não vão ficar aí parados
Ouvindo conversas de comadres
Provindas de sermões de padres!

Não vão ficar aí por fim
Dizendo: “Ó quão belas são minhas estátuas de marfim!”

Só vocês não percebem:
Estátuas não se movem!