Eis que haviam no início
Doze deuses imortais,
O nome deles não interessa
E dizê-lo não me apraz.
Tudo era perfeito.
Tudo era direito.
Nada de política, nem hierarquia:
Isso sim que era alegria.
Não havia universo,
Planetas ou civilização,
Como já disse nesses versos
Só haviam os doze deuses e total aquietação.
Não havia fervor, nem tristeza,
Nem bem, nem mal.
Nesse mundo, onde tudo era certeza,
Corria tudo muito normal.
Todo dia se reuniam
Os doze deuses a discutir
Mas como assunto não havia
Tentavam todos dormir,
Porém como eram deuses
E isso não podiam
Percebia-se que daquele tédio
Todos já se enchiam.
Mas eis que um dos deuses
Teve ideia espetacular,
Só que ocultou-a de seus companheiros
Para que como surpresa a preparar.
Decidiu arquitetar
Piada sem par.
Uma piada única e fantástica
Que a todos, por muito tempo, iria alegrar.
Pensou em se vestir de palhaço,
Em simular uma doença esquecida,
Outras mil brincadeiras idiotas. Por fim decidiu:
“Por que não? Criarei vida!”
Então se foi o deus
Vida a criar.
Criou constelações, planetas
E universos a vagar.
Dirigiu-se então a um planeta,
Árido e pequeno como ele só
E rindo disse o deus:
“Dessa merda criarei vida do pó!”
“Fonte de diversão será
Para toda a eternidade!
Nesse mundo imbecil
Criarei a humanidade!”
Então disse o deus:
“Faça-se a luz, forte a iluminar!
Afinal, se nós deuses não podemos dormir,
Os idiotas humanos terão que todos os dias acordar.”
E assim havia se concluído
O primeiro dia da criação.
O deus não perdendo tempo
Criou o segundo mais rápido que um trovão:
“Façam-se as nuvens de chuva e os mares!
A chuva irá molhá-los, resfriá-los, incomodá-los.
Quanto aos mares,
Para o nosso deleite, afogá-los.”
E assim mais um dia se passava,
O deus rindo como um demente
A piada continuava
Com seu humor negro e doente.
Então ordenou que a terra dos mares se elevasse,
Assim podendo criar plantas e animais:
“Afinal eles tem que viver muito
Pois devem ser motivo de risos sem outros iguais!”
“Devem viver muito tempo,
Esses seres atrasados.
Afinal, de tão burros,
Vão destruir a si mesmos os retardados.”
“Pelo menos comida
Vou lhes dar de sobra
Para que não se destrua tão rápido
A minha tão engraçada obra!”
Então o terceiro dia se acabava
Indo logo para o quarto,
Em toda a sua alegria
Sua imaginação fazia o parto.
No quarto dia como sol,
Estrelas e lua, já havia criado,
Passou esse dia
Pensando no que iria fazer no sábado.
No quinto dia peixes e aves criou
Simplesmente para saciar a fome,
Mas os peixes fedem pra burro
E os pássaros cagam na cabeça do homem.
Já no sexto dia
Estava de saco cheio.
Criou os animais e pensou:
“É chegado o momento que tanto anseio!”
“Tenho que fazer o homem
Mas o que irei usar?”
Então pegou um pouco de lodo
E pôs-se a trabalhar.
Dando ao homem a mesma forma de um deus
Para que pense que é grandioso,
Mas, no fundo, no fundo,
Não passa de um monte de barro pastoso.
Deu vida ao seu boneco
E este começou a andar.
Andava com duas patas
Para que mais facilmente pudesse tropeçar.
Depois de criado
Faltava o essencial:
Uma mente putrefata
Para fazer idiotices sem igual.
Já não aguentando mais ver
Coisa tão bestial
O deus foi embora
Para relatar aos outros seu feito fenomenal.
Os doze deuses observaram aquilo.
Rolaram pelo chão.
Estremeceu todo o universo
Perante àquela gozação.
Pensaram então em que nome dar ao humano.
Um disse: “Que tal Adão?”
Indagaram os demais: “Por que?”
“Porque não sei, mas é um nome feio como o cão!”
Todos então riram
E passaram a observar a criação.
Quase todos caíram
Ao verem, fazendo cooper, Adão.
Este então tropeçando
Com força foi ao chão.
Quebrou a costela e disse um deus:
“Já começou a confusão!”
O deus que o criou
Logo o auxiliou,
Retirando a costela quebrada
E Adão logo se reabilitou.
Vendo a costela apodrecer
Pensou o deus: “Que desperdício!”
Criou da costela a mulher
E uma estranha relação teve início.
Logo os deuses se colocaram a divagar
Que nome dar a mulher então.
Um disse: “Eva!”. Indagaram: “Por que?”
“Porque é tão feio quanto Adão!”
Dessa relação tão cruel
(Quem poderia adivinhar?)
Iria surgir toda a humanidade,
Raça idiota, motivo dos deuses o gargalhar.
Só podemos concluir
Após todo esse horror
Que deus era um cara
Com muito senso de humor!