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O coração é da tinta a medida certa

O coração é da tinta a medida certa
Que exige a mente do poeta.

Na razão, na subconsciência,
Depositou-se a cadência,

Mas a alma de seus versos
Está na emoção.

Por isso, poeta não escreve:
Da vazão.
Por isso, poeta não descreve:
Da forma à sua visão,

Aos universos
Que carrega na imaginação.

O coração é a asa perfeita
Pela qual plana esse pássaro asceta.
Na amplidão, no céu que o seu abraço estreita
Foi-lhe atirada a seta.

Que o peito lhe penetra
E lhe aponta o solo,
Para o qual vai em resignação.

Tal qual novo Ícaro
Tomba quando perto do Sol!
E sua canção de poder mais lírico
A faz sempre quando pertence ao terrestre rol.

Olha para o alto
Com os olhos molhados!

Está tombado!
Está caído!

E sua face cai em agonia por sobre a terra!
Suas lágrimas fertilizam o solo que o mistério encerra!
Ó! Ele vive em aspiração!
Novo Tântalo em exasperação!

Leva suas mãos à face
E num esgar de nojo e sofrimento
Dá vazão à dor que nasce
Destilando sua alma do tormento.

Cerra os punhos
E com olhos fixos no nada
Brada:

“Ó! Dessa fruta celeste
Só queria o sabor!
Não! Bastava-me o odor!
Mas traz-me ao solo a gravidade terrestre!”

“Olho para aquela esfera luminosa
E deixo sua luz me transpassar!
Abro as minhas asas de forma orgulhosa
E num impulso divido os céus com as criaturas do ar!”

“Vou ao céu em busca das delícias noturnas
Que o sonho me trazia!
De firmamentos que tencionava tocar e não pude
Se acercava a minha fantasia!”

“Mas no ápice da intenção
É cera minha aspiração:
Derrete-se!
E com força volto ao local que de mim escarnece!”

E assim passa o poeta seus dias!
Suas próprias asas o atam ao solo
E como consolo:
Seu lápis e suas fantasias!

E como consolo…
…Seu coração.

O coração é a vertigem certa
Que exige a sanidade do poeta!

Na clareza, na transparência,
Foi depositada sua essência,

Mas foi na loucura
Que encontrou a resposta dos seus desatinos!

Os destinos
Lhe são claros,
E de tais lírios,
Tão raros,

Pode ver a teia intrínseca por sobre o jardim!

A vida lhe abre as portas
E assim o exorta:
“Te condeno à ver!”

E ao vulgo com carinho lhe cerra as pálpebras
Deposita-o nas sombras
Dizendo: “Adormecer.”

A vida lhe abre os segredos
E enredos
Em sua mente passa à tecer!

Mas quando quer plasmar seus mundos virtuais
A sorte lhe mostra os dentes cerberais
E fica dele à escarnecer!

O coração é o ponto certo
Que exige a morada do poeta
E quando dessas paragens chega perto

Na paz, na eloquência,
Fica ao alto,
Seus braços à estender!

Quando lhe ruge a fera,
Quando por sobre seus intuitos a morte impera,

Dá as costas,
Com a noite faz promessas e apostas

E, de assalto,
Parece se rejuvenescer!

O coração é da vida a coisa certa
Que exige o coração do poeta:

Se lhe dão menos
Odeia!
Se lhe dão mais
Ateia

Fogo nessa floresta de ilusões!

De fato tem asco de medíocres corações.