A importância medida na carne
Não pode ser esquecida na dor que arde
O álcool atirado sobre a ferida exposta
Fará toda lembrança viva e a mostra
E esterilizada a chaga uma vez adquirida
Revelará dor maior que a chaga antiga
Essa chaga feita nas nuas costas
Pelo látego das vãs frívolas apostas
De amar-se dilacerado no fogo que arde
Trinchando-se na importância da carne
Tag: Carne
A carne arremessada sobre o leito
A carne arremessada sobre o leito.
Olhos fixos no nada
Enquanto as veias quase secas
Empurram coágulos pelas suas galerias.
O desejo do fim da dor
Se confunde com o desejo da morte
E do descanso eterno
Enquanto os órgãos lutam para trabalhar.
Tanta vida e tão pouca vontade!
O moribundo jaz sobre o leito.
Sua vida se irmana com sua morte:
A busca do fim da dor.
A doença, depositada na alma,
Estende suas garras sobre o coração
E tapeado pelas imagens do sono
Não notou o seu avanço.
Mas ele ainda pode ter os olhos fixos no espaço
E cego vislumbrar as imagens que o enganaram.
Fama, Fortuna, Glória e Clamor,
Belas mulheres em langor,
Vírus da sua ilusão,
Súcubo do pensamento.
E sessenta e cinco anos foram necessários
Para se levar o moribundo do nada ao nada.
Sessenta e cinco anos de doenças e pequenos incômodos,
De trabalhos e feridas,
De estudos e desalentos,
De humilhações e sofrimentos,
De bebedeiras e afagos,
De traições e paixão doentia,
De desencanto e tédio,
De apodrecimento e falha,
De ascensão e glória,
De esforço e preocupação,
De desespero e dúvida.
Sessenta e cinco anos de crime, castigo e aspiração,
De auto flagelação e sonho,
De sonhar e cair,
De cair e se levantar,
De levantar-se e se apoiar nos espinhos,
De perfurar-se e cicatrizar,
De cicatrizar e adoecer,
De adoecer e se curar,
De curar-se e morrer,
De morrer e morrer de novo
Todos os dias até o pó.