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O Açoite

Por que me açoita açoite?
Por que me açoita açoite?

Açoite! Açoite! Açoite!

Por que me açoita?

Açoita!
   Açoita!
     Açoita!

Açoite!
   Açoite!
     Açoite?!

Por que me açoita açoite!?

Açoite!
   Açoite!
     Açoite!

Por que me aceita açoite?

Aceita!
   Aceita!
     Aceita!

Por que açoite aceita?

Por quê!?
   Por quê!?
     Por quê!?

Aceita?!
   Aceita!
     Aceita!

Por que aceita o açoite?

Me aceita!
   Minha seita!
     Me aceita!

Açoite?!
Eu te aceito!!!

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A última folha do Outono

A última folha do Outono
Sente o vento querendo arrancar-lhe.
Ela sabe, embora não tenha carne,
Que até sua árvore lhe entregou ao abandono.

A última folha de Outono
Não quer morrer.
Cortar o cordão umbilical do galho
E se jogar ao chão onde a sujeira e não o orvalho

Irá lhe acariciar.

A carícia do bem é um sonho humano para a pequena folha.
Seca não vê que a luciférica escolha
Arrasta toda a criação
À putrefação da sabedoria.

A morte e suas facetas,
A dor e os seus adornos,
A sujeira do chão e os seus contrastes
Se miscigenam com o ar
E se insinuam no arfar
Do vento cansado.

A morte que rouba a vitalidade de todas as coisas
Está no ar, nas águas
E há de levar todas as formas ao seu descanso derradeiro

Na sujeira!

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A Primavera

“A Primavera
   Certeira
     Vem
       Ligeira
         À mente
          Que sente
            Seu clangor.
               A primeira
                 Cegueira
                   Vem
                     Altaneira
                       Mostrando
                         Certeira
                           Viagens,
                             Sonhos
                               E flor!”

Joga para o passado
O teu passado
Que com certeza
Do passado não sairás!

E passa do tempo
Em que os dias tão quentes
Eram carentes
De outras formas mais comuns!

Agora a sombra tão fulgídia
É necessidade de vida
Que se arremesa contra o interlocutor.

Mas vai como louca
Porque grita e não fala!
Porque chora e não cala
A criança que há no seu interior!

É apenas uma armadura.
É apenas uma armadilha.

Pois cingidos de reforços foram os corações,
Mas todos eles caem em turbilhões
De súplicas!

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Pego uma folha qualquer

Pego uma folha qualquer
E sequer
Noto ou penso
Como vou escrever.

É que
De lagos fétidos
Onde se foram derramados
Litros e litros de escórias humanas
Vejo, insanas,
Vozes mundanas que permeiam o gramado
Dos meus inquéritos
Sobre o divagar
E o navegar
Da luz por sobre a sombra
Tal qual pérola flutuante
Sobre negro lôdo.

Tal pedra, espelhando um diamante,
Brilha insistentemente ao luar.
E na hora de se derramar
O ponto nodal
Por sobre florestas de vísceras disformes
Poderá se empregar então
Um novo vocabulário
Por sobre o qual
Rolam pedras
De hieróglifos incontidos
Onde registrou-se
A morada de onze ferozes ferinas feras
Que nas férias da dissecação
Puderam visitar um amigo legista
Em sua cabana
No alto da montanha.

Mas quando a final façanha
Se sobrepor aos nossos anelos
Veremos que anéis singelos
Circundam formas derradeiramente noturnas
Enquanto viagens são empreendidas
Em busca de nada.

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Como caem lendas ideais

Como caem lendas ideais
Singram astros os vazios.
Seguem seu caminho circular e intraçável
E nesse caminhar pouco maleável

Acumulam histórias de tédio e transformação.

E o Sol entrega à Nebulosa o seu futuro.
A vida é um mar obscuro
Que não pede perdão.

O espaço é um negro profundo
Que pode ser contido nos ciclos do coração
E na perda da ilusão.

O Sol entrega o seu filho à Nebulosa
Que deslizará pela curvatura do espaço-tempo
Que será arremessado à distância pelo nascimento da SuperNova,

Mas são tão poucas as estrelas do céu
E tantas as crianças que dormem ao léu.

Estrelas renascem.
Crianças brilham.
Crianças fenecem.
Estrelas se consomem

Quando chamo seu nome.

Quando caminho ao relento
E me acompanha o vento.
Quando fico em paz
E passa o tempo

Medindo as distâncias
Entre o Mar da Tranquilidade
E uma conversa de covardes.

Mas continuam as rotações
E as órbitas.

Estamos caminhando.
Estamos nascendo, vivendo e morrendo.
Estamos retornando ao mesmo lugar:

Ao pó das estrelas,
Às nossas centelhas
De ilusão.

Aos nossos momentos e intentos
De dispersão.

E singramos espaços:
O cansaço levamos nos traços,
O caminho, no coração.

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Folhas límpidas

Limpa folha
Límpidos e horríssonos olhos
Mortais fatos
Coisas mortas
Cadáveres putrefatos
Idéias transcendidas
De transcendentais despedidas
Ponto, vírgula e traço
Nem tudo circunda o meu compasso
Se colocado no centro
De uma grande confusão
E se o sentido escorregou
Pela minha mão me deixou
Chorando os pontos não traçados
Em lagos límpidos de sana loucura
E já tanto tempo
Tem que o vento
Já não sopra por aqui
Volte um dia
Estou esperando…

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Reflexos – partes xii e xiii (final)

Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Parte VI
Parte VII
Parte VIII
Parte IX
Parte X
Parte XI

XII

O vento sopra numa terra deserta.
Estou nela e isso me põe alerta
À presença do portão.

Aqui, nu, em meio ao nada
Jogo o “Ás” de uma culpa marcada
E fixo toda a minha atenção:

“Lá está o portão…”

Me escapa pelos lábios
E como o sussurrar de velhos arqueados
Repete o eco pela amplidão:

“Lá está o portão…”
                  “o portão…”
                      “o portão…”

“A saída! A derradeira saída
Desse lugar de reflexos e comparação
E de olhos que me perseguem pela escuridão!”

Toco o pilar direito do Umbral.
Suas runas brilham e sua voz é um temporal:

“Eu sou o pilar direito!”

“Quem caminha na sombra me chama de irmão!
Quem caminha na luz me chama de trevas!
Que, à tocar-me te levas,
Tu, sem pátria nem coloração?”

Então, cabisbaixo levo à mão ao esquerdo.
Sua voz se faz do cantar azedo
De pássaros mortos que voam sem direito:

“Eu sou o esquerdo pilar do Umbral!
Runas não tenho, sou de um escuro sepulcral.”

“Assim separo meus amigos.
Que queres de mim mortal?”

“Que queres de nós?”
Dizem os dois tal qual destruidor vendaval.

“Passar! Passar!
Passar é um sonho!
Deixar,
Uma sandice!
Mas onde,
Ninguém me disse,
Posso ir sem me olhar?”

Os pilares se fundem
Numa moldura
E assim se confundem
Numa já conhecida escultura.

Salto rápido,
Não quero olhar.
Agora sou imagem,
Que terei que contemplar?

XIII

Acordei esta manhã e quando me olhei no espelho meus olhos estavam secos,
Mas meu reflexo chorava.

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Reflexos – parte xi

Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Parte VI
Parte VII
Parte VIII
Parte IX
Parte X

XI

Tantos olhos
Em tantos lugares!
Por que o mundo insiste tanto que eu me veja?
Tudo que meu coração deseja
É fugir para um lugar
Sem tanta reflexão.
Seria do mundo dos reflexos
A saída da entrada o portão?


Partes XII e XIII (final)

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Reflexos – parte x

Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Parte VI
Parte VII
Parte VIII
Parte IX

X

No filme na T.V.
Há um velho tocador de blues
Sentado numa mesa e tomando seu whisky
Com os olhos pelos óculos não nus.

Mas meus olhos são vítreos
De pura miscigenação.
Na minha mão
Não há whisky,
Só um dispositivo de síntono-alteração.
Na minha mente
Não há notas musicais,
Apenas a estática
De um canal que encerrou sua programação.

…E o velho olha para mim…


Parte XI
Partes XII e XIII (final)

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Reflexos – parte ix

Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Parte VI
Parte VII
Parte VIII

IX

Tão encerado,
Tão belo,
Assim está o assoalho.
Quando trago o pano para limpá-lo
Fico à admirá-lo,
Enquanto, do chão, uma voz exclama:
“E eu, teu reflexo, fico aqui à encará-lo!”


Parte X
Parte XI
Partes XII e XIII (final)