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Certas mulheres

Se tivesse que te dizer algo

Se tivesse que te dizer algo
Diria que não gosto de você.

Não gosto do seu cheiro
Do seu hálito
Do seu riso fácil
Da sua anca indócil.

Fatalizado pela máxima bíblica:
“O que devo fazer não faço
Mas o que não devo faço constantemente”

Te como todos os dias alegremente.

Mas há o postulado que me conforta,
Lá no Novo Testamento que exorta,
Que mal nos faz o que sai da boca
Jamais o que entra na supradita cloaca,

Por isso nem todo o caldo de sua vagina
Há de enviar minha alma incorruptível ao Hades
Que segue preceitos sacros como sina
Por exagerar na exploração de todos os seus lugares.

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Certas mulheres

Afrodite

Às vezes quando de saudade sou tomado
Desço até o verde e gracioso prado
E com os dedos relva fico a arrancar.

O prado é calmo e tranquilo
E um pouco do teu colo sinto e me rejubilo
Desfazendo a miúdo o vazio que estava a se instalar.

“Quase um nada, quase um nada” – eu digo.
E a sensação que trago comigo
Quase me leva a sufocar.

Morena, Morena,
Por que me levaste pelos dedos de tua mão
Ao recôndito onde sabores são para se desfrutar?

Pequena Helena
Querias carícias dignas de dia de verão
E harpas e pífaros a bradar?

Eu que sou só tristeza
(E é tudo que no meu olhar talvez veja)
Nada mais tinha para lhe entregar.

Gesto da minha alma
Que se desvanece diante da carne nua.
Tocar-lhe morena me tira a calma
E eis-me solitário licantropo adorador da lua.

Não me roube o derradeiro alento:
Teu hálito doce, teu beijo suculento.
Teu corpo belo, das mãos de deus rebento.

Ah! Esse deus que se esmera em me tirar a paz!
Criou esta última fera de olhos negros e trato voraz!
De belos seios e corpo capaz

De ao mesmo tempo doar e tomar
Tudo o que há em mim e tudo o que um dia hei de me tornar.

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Certas mulheres O Fim

Mulher Demoníaca II

Ah Tu que fria
Te ergues assim
Diante de mim
Nua, altiva e esguia!

Tal qual serpente alucinante,
Que me hipnotiza e provoca sensações delirantes
No meu corpo,

Vai ocultando e mostrando rapidamente
Com movimentos eloquentes
Tua língua ofídica e sensual

Enquanto teus olhos répteis e demoníacos,
Fixos nos meus,
Provocam efeito que nem a ação de mil afrodisíacos
Poderiam alcançar!

Os movimentos ondulantes
Executados pelas tuas mãos deslizantes
São passes de magia que não se pode explicar!

Ah Tu que fria!
Mulher-Demônio!
Teus negros cabelos!
Tua branca pele!
Teus singelos seios!

Carregados de inocência
E convidativos à experiência
De beijá-los!

Ah… tocá-los!

Mas mulher, acima de tudo isso…
…Teus olhos!

Ao vê-los me sinto diante de forças luciféricas!
Vejo chamas em meio às formas esféricas
Das tuas pupilas,
Ó Senhora-De-Todas-As-Sensualidades!

Ah mulher!
Sexo contigo é um pacto com todo o Inferno!
É mergulhar no Estige!
É deixar o tesão queimar
De tanto gozar!

Ah mulher!
Amor contigo é uma história do Averno!
É duvidar da resposta de Édipo ao enigma da esfinge!
É deixar a alma se desintegrar
De tão etereamente flutuar!

Ah mulher!
Tuas chamas me cercam!
Teus braços me apertam
Até sufocar!

Senhora-Branca-Como-O-Gelo
Teu corpo me pede violência e zelo!
Teu sexo parece que está a me chamar!

Ah… Te penetrar é enviar o espírito
Até diante dos olhos de Hades!

Ah mulher!
Só tu sabes
Como me fazer queimar!

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Certas mulheres

Quis fazer dos jogos livres

Quis fazer dos jogos livres
Teus brinquedos preferidos
E nos teus desdéns me exiges
Todos os sentidos aturdidos.

Agora vai, ninfa irresponsável,
Atirar minha alma ao Estige
Pois a do tolo imponderável
É a textura que se exige

Para se entregar aos devaneios
E recitar versos de cor,
Para se enlevar dos receios
E mergulhar no torpor.

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Certas mulheres O Fim

Mulher Demoníaca I

Ah Tu que fria
Ergue-te assim
Diante de mim
Altiva e esguia,

A me olhar
Com o olhar das serpentes!

E em meio aos movimentos eloquentes
Da tua língua audaz
Vi o portento que nos traz

Desejar-te, ó carne feminina,
Caixa de Pandora
Contedora de prazer!

Vêde que feliz creio que te sei fazer
Se nos meus braços lhe envolver
E olhar nos teus olhos negros e demoníacos
Que tua vilaneza denotam,
Ó mulher sombria,
Filha arredia
De um apátrida sem par!

Vede que pousando minha mão por detrás da tua cabeça,
Enquanto a outra pelo teu corpo talvez desça,
Posso sentir mais profundamente, ó força,
Que vejo encerrada nesses olhos felinos!
Nesses belos traços femininos!

Mulher!
Teu perfume é o vácuo que se encerra no coração!
Tua atração é a frieza e o cálculo da tua razão!

Ó morena de olhos malditos,
Como eu te amo!
Digo mais!
Me sinto diante de algo luciférico,
Me parece que as chamas do inferno
Ardem no formato lindamente esférico
Dos bicos dos teus seios!

Mulher! Tu és lindamente pérfida!
Maravilhosamente macabra!
Perfeitamente fétida!

Fazer amor contigo
É como adorar o demônio!
Beijar-te o umbigo
É despertar fúria
Que ensoberbece o coração e faz injúria
Às coisas divinais!

Ó morena fria
De lábios cheios de lembranças sepulcrais!
Ó morena fria
De infernos lindamente vaginais!

Penetrar-te é mergulhar no Averno!
Alucinar-te é compactuar com o eterno…
…Eterno gozar de prazeres do Orco!

Ó morena fria
De falar tão terno!

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Certas mulheres

A libido torna-se palpável

A libido torna-se palpável
E toma forma.
E com seus novos trajes corporais
Se adorna

E sem demora diz:
“É aquela mulher
Com a qual meu desejo condiz!”

E assim pela volúpia acercada
Se vê em êxtase enredada
Tal qual adolescente no regaço da amante.

Em tal prisão se vê triunfante.
Em tal claustro se faz viandante

Pela imaginação luxuriosa
Que cria cenas seviciosas
Servindo à serpente à sarça enroscada ardente.

E tal qual esse réptil inconsequente
Queria fincar meus venenosos dentes
E roubar da vida,
E em meio à vida convalescente,
A carne dessa mulher que dos seios melonáceos possuidora
Jaz no rol das sedutoras
Capazes de fazer à outrem
As insinuações do êxtase e da dor.

Tão duro conquistar-lhe pela flor.
Tão difícil levá-la ao leito de amor

Quando das paragens vespertinas
É a inerência do desejo
Ou quando nossas propinas
São tão parcas que nos provocam o medo
De perder a oportunidade única
De roubar-lhe sequer um beijo.