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L'Art

O Poeta

O Poeta,
Viajante do obscuro,
Não percebe ou não quer ver
Que no seu querer
Não existe o delinear poderoso
Do verso que vem
Destruir formas,
Repugnar normas
E duvidar da fé.

Ergue entre súplicas
Mares de dúvidas,
Como se fossem muros aquosos,
Pontos receosos,
De solidão.

E com o olhar fixo no espaço
Destrói-se vida, morte e um laço
Que prende a sanidade à vida.

E se lágrimas escorrem da face,
Felizes ou inquietos, profundos ou satisfeitos,
Perdidos ou desfeitos,

Rasgamos nossos planos,
Desfazemos nossas promessas,
Jogamos fora nossa moral.

E num ponto infinitesimal
Foi encerrado o sentido
Invisível aos olhos nus.

A irracionalidade ou a racionalidade não fazem jus,
Mas a busca de uma ou outra também não.

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Poetrix

[Poetrix] A Verdade sobre as Máximas II

Em Verdade em Verdade vos digo:
Tudo que disse até agora era patranha,
A Mais Pura Mentira!

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Versos Íntimos

Gentil dama que me escreve

Gentil dama que me escreve,
Veja só o que está fazendo:
Desperdiçando lábia a quem se atreve
Cuspir versos ao bravio vento.

Nem de um só instante
Ficou longe de ti meu pensamento,
Mas a insistência me é irritante
E a repetição mero tormento.

Por isso não se entregue
A esperança desse tíbio momento.
O momento (isso é certo) fenece
E vai lhe desamparar qualquer contentamento.

Faça uma prece! Ore! Cante!
Mas a ouvidos outros envie seu sibilo!
Minha alma dorme, não se espante,
No mais profundo sigilo.

Por isso palavras não me sangram,
Nem me sangram seus berilos,
Verdes olhos que não amam,
Só a tortura lhes serve de colírio.

Entrego-lhe somente esta mão
Onde o estigma se figura:
Pregos, tachas, tição,
Já lhe atravessaram a carne dura.

Crucifixo que sou abro os braços
Abarcando toda a estrutura
Desse tórrido planeta de embaraços
Abençôo a toda criatura

Que se ergue aos meus olhos e ri!
Ri como ri o corcunda da basílica!
Enfeiado de si mesmo e balindo o vi
Badalando sinos! Entoando mímicas!

Mas, quanto a ti, cessa!
Cessa toda e qualquer palavra!
A palavra me irrita, não se meça
Naquela que é a mais infértil lavra.

Dê a minha alma algo
Que lhe brote do próprio ventre!
Dê-me do seu âmago o fogo!
Só assim há de me ver contente.

Dê-me um único motivo
Que não possa ser dito!
Um único peso novo
Que não possa ser erguido!

Dê-me da sua carne o portento!
Dê-me do seu útero o sono.
Da lembrança o esquecimento.
Do seu colo o abandono.

Dê-me algo novo:
Novo como eram novas todas as coisas no frontispício da criação.
Novo como eram novas todas as noivas do paradisíaco Adão.

Dê-me algo que não tenha nome!
Nem signo!
Nem forma!
Nem imagem!

Nem dono!
Nem norma!
Nem margem!

Limite, estatura, métrica, aparência,
Embuste, candura, réplica, decência!

Dê-me você!
Mas a você que se perde de si mesma!
Dê-me você!
Mas a você que deconhece e se pasma!

Dê-me… ah…! Dê-me!

Ah…! Gentil dama que me escreve
Tardiamente capturei o teu intento!
Perdi levado pelo desejo que me impele
A tentar nomear o derradeiro portento!

Gentil dama que me escreve
Veja só o que está fazendo…
Fomentando em mim a palavra que deve
Fenecer já! Agora! Neste momento!

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Poetrix

[Poetrix] Quando tudo temos I

Orgíaca ânsia refestelad’em atol
Fisga a caínic’alma no seu anzol.
Imbuindo-se de tudo encontra-se o nada.

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L'Art

Quero cantar

Rasgo os títulos de minha mente.
Descrevo o que meu louco coração sente
Com os ditames que ele me dá.

A calma ilusão aparente
Só descreve o contorno indecente
Do caos que aqui está.

Se cantamos sós
(E loucos somos nós)
Mais loucos são
Os que se dizem com a razão…

…E não amam!

Porque louco é o meu amar
E se parece rápido e incerto
É que muito lutamos
Para cruzar o deserto…

…Da frieza!

Quero cantar versos
Porque meu sentir dardeja a mente
Querendo rascunhar neste universo
Aquilo que abarca sempre.

Se fugaz como luzes espaciais,
Que cruzam vazios sepulcrais,
Que enterram lendas abismais,
Parece o meu correr contente,

Feche teus olhos!

Pois minha felicidade inebriante
Para os não sonhadores é desconcertante.

Se abraço o sol da loucura
E se visto a roupagem menos pura
É porque livre é o meu pensar
E louco é o meu pesar.

Não preciso descrever
Em faces abertas
Os nuances do meu ser.

Velhos amigos aqui estão.
Há muito partiram,
Mas, voltarão…

…Quando o sol tiver se posto
Por trás do teu rosto
Amada do meu coração.

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Poetrix

[Poetrix] A Verdade sobre as Máximas

Mais fácil camelo passar n’agulha
Do que a montanha vir a Maomé.
Moa o camelo e vá a pé!

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L'Art

Poesia cantamos nós que vivemos…

Poesia cantamos nós
Que vivemos sós
Sob a luz do sol.

Velejamos, velejamos,
Solitários levamos
A marca do pesar.

Choramos e vivemos,
Seguimos e nunca temos
Ombro para se recostar.

E se são poucos os versos,
Se vivemos dispersos,
É porque nos falta o amar.

Os pontos que se cruzam,
As encruzilhadas que se acham,
Passam longe daqui.

E se é pouca a vida
São muitas as lágrimas da despedida
Que nos trouxeram até aqui.

E se canto só
Vendo o vento levantar o pó
Do meu caderno,

No qual plasmo frustrações,
Separados corações
E desenho o mapa do inferno…

…Do meu humano inferno…
…Cheio de contradições!
Contraditas convulsões!

Alegria e ódio.
Riso e fantasia.
Dor e realidade fria…

…Que nos cerca:

Em despedida
   Quando os pássaros,
     Já cansados,
       Juntam os traços
         Do seu pesar!

           Se é rijo o vento,
             Se grande é o tormento,
               Voam mais alto
                 Pra calar

                   A voz que clama no peito
                     O humano direito

                       De amar,
                         De calar,
                           De sonhar,
                             Viver

                               E morrer…

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Suave coisa, suave coisa nenhuma

O duplo assassinato de Camões e Renato Russo II

Selvagem consumia tudo pela sua frente.
Não via obstáculo, nem barreira,
Não via rio, não via gente.

Foi em desabalada matando tudo inconsequente.
Sem um oráculo era fogueira.
Desvario do imponente.

Tudo consumido dessa chaga não sobrou o que esquente.
Tíbia brasa, mera besteira,
De um amor intransigente.

-Idéia por Talita Benevenuto (Todo Pensamento do Universo“Devastado”)
-Escrito por Guto
-Pontos pós-cesária por Talita Benevenuto

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Suave coisa, suave coisa nenhuma

O duplo assassinato de Camões e Renato Russo I

O fogo que um dia cultivei
Cresceu mais que esperava.
Consumiu o ar que respirei,
Consumiu a casa onde morava.

Nada mais tinha a oferecer
A esse fogo que se alastrava,
Por isso de súbito veio a fenecer:
Seu último suspiro, apenas, brasa

-Idéia por Talita Benevenuto (Todo Pensamento do Universo“Devastado”)
-Escrito por Guto
-Pontos pós-cesária por Talita Benevenuto

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Poetrix

[Poetrix] Rebentação

Ah Mar! Teria sido acaso?
Foi escolha e não parnáso!
Foi fundo, nunca raso!