Questiono o uso
(Obscuro abuso)
Do cérebro que me deu
O prazer não meu!
Fica dentro da minha cabeça
A questionar do vácuo a natureza,
A olhar para o tempo de incerteza,
A desprezar a já escassa beleza.
Tateando ontens antigos,
Reclamando de ontens mais jovens,
Chorando sua juventude como castigo
Merecido por suas fatais viagens.
Escreve versos e traça ideais,
Fala de dias fatais
E sua suprema diversão
– Ah! É pensar como o cão!
Vejam que coisa absurda,
E se não vos parece confuso
À mim só causa dúvida:
Meu cérebro questionando seu uso!
Quis terminar os versos
Mas ele não me deixa espaço!
E vou delineando a seu prazer
No meu caderno traço à traço!
…Parece que se cansou…
Bem, se já me resta conclusão
É crer que a sanidade me deixou
E que a loucura há muito me alcançou!