Filho, feto da minha alma!
Te vejo agora morto nas minhas mãos!
Abortado foste por aquela que não teve forças
Para tirá-lo do coração!
Agora vendo teu semblante sem vida
Vem a mim cruel despedida
Da tua alma que agora está a vagar
Sabendo que, para o descanso, não terá lar.
Forma! Te vi gestado em meio a confusão.
Tuas partes foram má geradas
Em meio a múltiplos conflitos
De múltiplas encruzilhadas.
E agora que vens a tona,
O teu sentir disforme
E tua forma triste e sem vida
Provocam em mim a dor que consome.
E erijo para ti,
Ó alma errante,
Teu derradeiro túmulo de diamante!
O qual foi guardado aqui, no peito,
Esperando que viesse tolerante
Para depositar o teu semblante.
Toma asas,
Viajante dos ares!
Toma espaço,
Louco foragido de batizares!
Tua sombra projeta o tormento no meu ser.
Tua vida projeta morte no meu conceber.
Tua loucura é por demais arredia ao meu ver.
E agora criança-sombra
Chamo velhos pássaros:
Que voam rumo ao espaço
Ostentando na fronte seu pesar!
Voam em disparada.
Dura foi sua caminhada
E temem ao fim chegar!
Uniram o tormento,
Dispersaram o intento,
E sabem que não existe no mundo mais lugar!
Eles vêm agora, criança-sonho,
Buscar teu corpo morto e inerte
Em meio a essa poesia
Que minha alma agora verte!
Vê o por-do-sol, criança!
Eles te levarão para lá,
Onde nada se tem para ocultar.
Já chegam aqui os pássaros!
Já te tiram dos meus braços!
Já atravessam os espaços!
Sua partida já estou a contemplar…
…E a chorar…