A cadeira de balanço
Vai e vem
E o ranger de suas madeiras
Uma história contém.
O velho que por sobre ela senta
Tal história conhece muito bem,
E seus olhos azuis, cansados e cegos,
Aparentam que tudo vêem.
Porém o velho nada está a olhar.
Seus pensamentos viandantes
Estão aprisionados numa carcaça
Incapaz de voar
E do tédio, a taça,
Passa os dias a bebericar.
Na lareira, cinzas ancestrais
O fogo não queima.
A madeira inexistente não teima
Em querer ressuscitar…
…Para queimar…
O velho levanta um pouco sua cabeça
E no seu semblante
Um ar de quem conhece a peça faltante
Do quebra-cabeça
Está a se demonstrar.
O velho sorri,
Mas seus olhos são frios.
Enquanto a cadeira fica a balançar.
A madeira do assoalho é suja e gasta
E sua velhice desgasta
A juventude de quem nela pisar.
Seu jogo é calmo e eterno.
Eterno friccionar
Com a cadeira à balançar.
Na parede há uma moldura
Sem quadro.
Perto à porta há uma escultura
Que tal retrato
Fica a contemplar…
…Enquanto ouve o barulho da cadeira a balançar.
O velho sabe e espera
Pelo dia em que a cadeira,
Tal quimera,
Parará de balançar…