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O Trem a Vapor

*Singela paródia da música “A Banda” de Chico Buarque

Tava com nhaca da vida
E o meu amor me chamou
Pra gente ir se matar
No trilho do trem a vapor

Da minha vida sofrida
Despedi-me com ardor
Me deixando esmagar
Pela locomotiva a vapor

O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a carniçada voar
Do trilho do trem a vapor

Tava com nhaca da vida
E o meu amor me chamou
Pra gente ir se matar
No trilho do trem a vapor

Da minha vida sofrida
Despedi-me com ardor
Me deixando esmagar
Pela locomotiva a vapor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que merda toda era aquela

A viscerada se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Com as entranhas espalhadas pelo trem a vapor

Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Limparam todo lugar
Depois que o trem passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Só ficou meu sangue a pintar
O trilho do trem a vapor
Só ficou meu sangue a pintar
O trilho do trem a vapor…

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Considerações

A última folha do Outono

A última folha do Outono
Sente o vento querendo arrancar-lhe.
Ela sabe, embora não tenha carne,
Que até sua árvore lhe entregou ao abandono.

A última folha de Outono
Não quer morrer.
Cortar o cordão umbilical do galho
E se jogar ao chão onde a sujeira e não o orvalho

Irá lhe acariciar.

A carícia do bem é um sonho humano para a pequena folha.
Seca não vê que a luciférica escolha
Arrasta toda a criação
À putrefação da sabedoria.

A morte e suas facetas,
A dor e os seus adornos,
A sujeira do chão e os seus contrastes
Se miscigenam com o ar
E se insinuam no arfar
Do vento cansado.

A morte que rouba a vitalidade de todas as coisas
Está no ar, nas águas
E há de levar todas as formas ao seu descanso derradeiro

Na sujeira!

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Certas mulheres

Se tivesse que te dizer algo

Se tivesse que te dizer algo
Diria que não gosto de você.

Não gosto do seu cheiro
Do seu hálito
Do seu riso fácil
Da sua anca indócil.

Fatalizado pela máxima bíblica:
“O que devo fazer não faço
Mas o que não devo faço constantemente”

Te como todos os dias alegremente.

Mas há o postulado que me conforta,
Lá no Novo Testamento que exorta,
Que mal nos faz o que sai da boca
Jamais o que entra na supradita cloaca,

Por isso nem todo o caldo de sua vagina
Há de enviar minha alma incorruptível ao Hades
Que segue preceitos sacros como sina
Por exagerar na exploração de todos os seus lugares.

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Considerações

A Primavera

“A Primavera
   Certeira
     Vem
       Ligeira
         À mente
          Que sente
            Seu clangor.
               A primeira
                 Cegueira
                   Vem
                     Altaneira
                       Mostrando
                         Certeira
                           Viagens,
                             Sonhos
                               E flor!”

Joga para o passado
O teu passado
Que com certeza
Do passado não sairás!

E passa do tempo
Em que os dias tão quentes
Eram carentes
De outras formas mais comuns!

Agora a sombra tão fulgídia
É necessidade de vida
Que se arremesa contra o interlocutor.

Mas vai como louca
Porque grita e não fala!
Porque chora e não cala
A criança que há no seu interior!

É apenas uma armadura.
É apenas uma armadilha.

Pois cingidos de reforços foram os corações,
Mas todos eles caem em turbilhões
De súplicas!