Às vezes quando de saudade sou tomado
Desço até o verde e gracioso prado
E com os dedos relva fico a arrancar.
O prado é calmo e tranquilo
E um pouco do teu colo sinto e me rejubilo
Desfazendo a miúdo o vazio que estava a se instalar.
“Quase um nada, quase um nada” – eu digo.
E a sensação que trago comigo
Quase me leva a sufocar.
Morena, Morena,
Por que me levaste pelos dedos de tua mão
Ao recôndito onde sabores são para se desfrutar?
Pequena Helena
Querias carícias dignas de dia de verão
E harpas e pífaros a bradar?
Eu que sou só tristeza
(E é tudo que no meu olhar talvez veja)
Nada mais tinha para lhe entregar.
Gesto da minha alma
Que se desvanece diante da carne nua.
Tocar-lhe morena me tira a calma
E eis-me solitário licantropo adorador da lua.
Não me roube o derradeiro alento:
Teu hálito doce, teu beijo suculento.
Teu corpo belo, das mãos de deus rebento.
Ah! Esse deus que se esmera em me tirar a paz!
Criou esta última fera de olhos negros e trato voraz!
De belos seios e corpo capaz
De ao mesmo tempo doar e tomar
Tudo o que há em mim e tudo o que um dia hei de me tornar.