Categorias
L'Art

Poesia cantamos nós que vivemos…

Poesia cantamos nós
Que vivemos sós
Sob a luz do sol.

Velejamos, velejamos,
Solitários levamos
A marca do pesar.

Choramos e vivemos,
Seguimos e nunca temos
Ombro para se recostar.

E se são poucos os versos,
Se vivemos dispersos,
É porque nos falta o amar.

Os pontos que se cruzam,
As encruzilhadas que se acham,
Passam longe daqui.

E se é pouca a vida
São muitas as lágrimas da despedida
Que nos trouxeram até aqui.

E se canto só
Vendo o vento levantar o pó
Do meu caderno,

No qual plasmo frustrações,
Separados corações
E desenho o mapa do inferno…

…Do meu humano inferno…
…Cheio de contradições!
Contraditas convulsões!

Alegria e ódio.
Riso e fantasia.
Dor e realidade fria…

…Que nos cerca:

Em despedida
   Quando os pássaros,
     Já cansados,
       Juntam os traços
         Do seu pesar!

           Se é rijo o vento,
             Se grande é o tormento,
               Voam mais alto
                 Pra calar

                   A voz que clama no peito
                     O humano direito

                       De amar,
                         De calar,
                           De sonhar,
                             Viver

                               E morrer…

Categorias
Suave coisa, suave coisa nenhuma

O duplo assassinato de Camões e Renato Russo II

Selvagem consumia tudo pela sua frente.
Não via obstáculo, nem barreira,
Não via rio, não via gente.

Foi em desabalada matando tudo inconsequente.
Sem um oráculo era fogueira.
Desvario do imponente.

Tudo consumido dessa chaga não sobrou o que esquente.
Tíbia brasa, mera besteira,
De um amor intransigente.

-Idéia por Talita Benevenuto (Todo Pensamento do Universo“Devastado”)
-Escrito por Guto
-Pontos pós-cesária por Talita Benevenuto

Categorias
Suave coisa, suave coisa nenhuma

O duplo assassinato de Camões e Renato Russo I

O fogo que um dia cultivei
Cresceu mais que esperava.
Consumiu o ar que respirei,
Consumiu a casa onde morava.

Nada mais tinha a oferecer
A esse fogo que se alastrava,
Por isso de súbito veio a fenecer:
Seu último suspiro, apenas, brasa

-Idéia por Talita Benevenuto (Todo Pensamento do Universo“Devastado”)
-Escrito por Guto
-Pontos pós-cesária por Talita Benevenuto

Categorias
Poetrix

[Poetrix] Rebentação

Ah Mar! Teria sido acaso?
Foi escolha e não parnáso!
Foi fundo, nunca raso!

Categorias
Interlúdio

Quando tudo temos

Quando tudo temos
(Ou pelo menos coisas as quais apetecemos)
Sorrimos às luzes do meio dia
Dando feliz cantar ao sol.

Nesse tempo negamos a marca que nos fere a destra
E deixamos que, funesta,
A felicidade nos corrompa a harmonia
De nossa negra alma presa ao seu negro anzol.

Por tanto, de Lúciferes enraivecidos,
Passamos à ternos deuses esmaecidos
Na ânsia da orgia
E na beleza do atol.

Mas de quantas monotonias
Forja seu dia à dia
Ó Cíclope acorrentado à forja?

Tão voraz é a corja
Que se olhas esquerdo
Já se incita na mente o medo?

Ou a corrente é por demais bela
Que não vale a quirela
De ser maldito?

Categorias
Poetrix

[Poetrix] Banquete

Da minha carne que te dei
Bocados cerberaste no festim dos danados.
Lamba os dedos e diga: “Amei”

Categorias
Interlúdio

O cancro na estrada

Eu sou um demônio antigo
Cuja idade não se conta
Com os dedos da mão.

Eu sou um alento perdido
Nos esgares da tosse
Provocada pelo toque da tua mão.

Ah! Desse deus louco quero distância!
Ainda que, minha vigilância,
Falhe à noite
E caia nas desgraças.

E que desgraças
São essas tão poucas
Que roucas, ou loucas, ou noutras,
Se levantam levantando dúvidas
E nos arrastam impúdicas
Pelas linhas de tua mão?

E se mão fosse parâmetro do destino
Que desatino não pode cometer a mente humana
Que cigana das formas vagueia por entre os menestréis do sonho?

Vagueia no enfado das estradas
E espia em paredes esburacadas à busca de corpos nus.

Tanto pus, meu deus, tanto pus!
E que juz
Faz essa ferida,
Esse cancro no nada,
À estrada na qual foi depositada?

Categorias
Poetrix

[Poetrix] Estava podre

Do deleite repetido e compulsivo
Ficou na boca apenas o amargo.
Amêndoa estragada.