Categorias
Noite

Amor à Sombra da Noite

Um sorriso é tão somente um sorriso
E se a ti parecer mais,
Ó Sombra da Noite,
Vem e beija-me!

Respiro-te.
Sinto-te.
Provoco-te prazer.

E se de ausência ou proximidade
A minha presença carecer,
Ama-me!

Pois só nos extremos insensíveis
Ao toque, ao olhar tão humanos,
É que nos tornamos menos perecíveis,
Mais próximos de etéreos planos!

Na sombra forjei-me.
Na sombra cresci.
Na sombra vivi.

E se agora a tua imaculada negritude
Me parece, talvez, como alheia
À minha insana inquietude,

É que a velhice provocou
Cegueiras na mente
E o coração profundo sono tocou!

Por isso, toca-me e sente
As névoas por entre as minhas ideias.
As luzes por entre as minhas concepções.

Toca-me e ama-me, ó Sombra da Noite.
Une os nossos corações.

Categorias
Interlúdio Teen Drama

Ideal perdido

Não quero regurgitar
Velhas frases já engolidas,
Mas tantas são as lágrimas
E tão profunda é a tristeza da despedida.

Tão fracos foram os dias de glória
Que se partiram em mil pedaços,
E caindo no tempo
Se perderam no vazio espaço

Que é meu coração.

Crenças criam força.
Sonhos criam homens.
Loucuras tornam suportável a razão.

Mas realidade sem sonho
É como o avistar risonho
De sepulcral caveira
Que torna tudo enfadonho.

Ah! Mas razão sem crença
É como um útero estéril.
É como edificar um palácio
Sobre areia movediça.

Hoje só queremos viver,
Mas não era muito melhor
Quando queríamos a vida absorver,
Brilhar e reduzir a nada o pior.

Os homens tem coração negro
Mas a negritude em nós é sem igual,
Porque vimos o abismo e cuspimos
E hoje freqüentamos o tal.

Onde está nosso brilho?
Se perdeu na nossa mais cruel traição?
Inventamos tantas desculpas…
Para que?! Nem à nós mesmos convence essa falação!

Onde está nosso coração?

Categorias
Considerações

Reflexos – parte xi

Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Parte VI
Parte VII
Parte VIII
Parte IX
Parte X

XI

Tantos olhos
Em tantos lugares!
Por que o mundo insiste tanto que eu me veja?
Tudo que meu coração deseja
É fugir para um lugar
Sem tanta reflexão.
Seria do mundo dos reflexos
A saída da entrada o portão?


Partes XII e XIII (final)

Categorias
O Fim

Porvir V

Horrores na mente culminas
E as forças minas
Em incansável perfuração!

Tua alma é rocha sólida
Que insólita
Lhe impede a continuação!

Categorias
O Fim

Porvir IV

Verterás loucuras impróprias e ímpares
Que se perderão na censura
Das pornografias
Que a usura
Incitou nos inimigos que alias!

Perderás tua virgindade com sórdida prostituta
Que inculta
Lhe ensinará verdades sobre o amor!

Cagarás nos berços dos teus filhos
E nos terços das beatas
Vomitarás!…

Categorias
Dor

No sonho daqueles que nos perderam

No sonho daqueles que nos perderam
Somos a nódoa da sombra
Que embranquece a luz.
E inerentes à coloração dos mortos nos fizeram,
Perdidos sob a relva,
À sustentar uma cruz.

E nos deram motivos para chorar à noite.
E nos deram lembranças e carinhos de açoite.
E nos fizeram voltar ao chão.

E singramos como os vermes
As paragens do húmus
Enquanto a mente estéril concerne
Os erros que ergueram nossos túmulos.

E as lembranças de quando éramos vivos
Nos escorrem da boca feito néctar sangüíneo.
Cavando túneis onde não chega o som dos sinos
O lembrar se transforma num caminho retilíneo.

E do transformar da sombra em sombra
É que se ergue a nossa mágoa.
Pois em pensamentos dividimos águas
Mas em toda fútil fúria nossa alma se assoma.

Pois ninguém nos rasga a carne na cama.
Pois ninguém nos compra a alma de lama.
Ninguém nos chama. Ninguém nos ensina.
Ninguém nos faz chorar.