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Dor

Sou o último herdeiro

Sou o último herdeiro
De herança que ninguém quer
E é por isso que um filho meu
Jamais conceberá nenhuma mulher.

Levo nos ossos a desdita
Do vicioso círculo do samsara
Essa roda cruel e maldita
Que esmaga corpos e jamais pára.

Levo nos ossos a desdita
Do vicioso círculo do samsara
Tem piedade, meu deus, e livra
Teus filhos dessa corrente que nos é cara.

Se tivesse a opção
Que escolheria?
Da liberdade a benção
De não repetir-me mais um único dia.

Dorme entre os lençóis da Eternidade
Ó criança concebida longe daqui
Nunca acorde para a realidade
Desprovida da lança que te pedi.

Pois se acordares e me incitares para a guerra
Desarmado com certeza vou cair.
Pois se abrires a caixa que o lamento da minh’alma encerra
Nunca, nunca mais vais conseguir dormir.

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Considerações

Reflexos – parte viii

Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Parte VI
Parte VII

VIII

O espelho é um caderno
No qual só o batom pode escrever.
E as poesias que contém podem ser fugazes

Tais como:

“Adeus!
      Espero nunca mais te ver!”

E quebra-se um vidro de perfume no chão!


Parte IX
Parte X
Parte XI
Partes XII e XIII (final)

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L'Art

O coração é da tinta a medida certa

O coração é da tinta a medida certa
Que exige a mente do poeta.

Na razão, na subconsciência,
Depositou-se a cadência,

Mas a alma de seus versos
Está na emoção.

Por isso, poeta não escreve:
Da vazão.
Por isso, poeta não descreve:
Da forma à sua visão,

Aos universos
Que carrega na imaginação.

O coração é a asa perfeita
Pela qual plana esse pássaro asceta.
Na amplidão, no céu que o seu abraço estreita
Foi-lhe atirada a seta.

Que o peito lhe penetra
E lhe aponta o solo,
Para o qual vai em resignação.

Tal qual novo Ícaro
Tomba quando perto do Sol!
E sua canção de poder mais lírico
A faz sempre quando pertence ao terrestre rol.

Olha para o alto
Com os olhos molhados!

Está tombado!
Está caído!

E sua face cai em agonia por sobre a terra!
Suas lágrimas fertilizam o solo que o mistério encerra!
Ó! Ele vive em aspiração!
Novo Tântalo em exasperação!

Leva suas mãos à face
E num esgar de nojo e sofrimento
Dá vazão à dor que nasce
Destilando sua alma do tormento.

Cerra os punhos
E com olhos fixos no nada
Brada:

“Ó! Dessa fruta celeste
Só queria o sabor!
Não! Bastava-me o odor!
Mas traz-me ao solo a gravidade terrestre!”

“Olho para aquela esfera luminosa
E deixo sua luz me transpassar!
Abro as minhas asas de forma orgulhosa
E num impulso divido os céus com as criaturas do ar!”

“Vou ao céu em busca das delícias noturnas
Que o sonho me trazia!
De firmamentos que tencionava tocar e não pude
Se acercava a minha fantasia!”

“Mas no ápice da intenção
É cera minha aspiração:
Derrete-se!
E com força volto ao local que de mim escarnece!”

E assim passa o poeta seus dias!
Suas próprias asas o atam ao solo
E como consolo:
Seu lápis e suas fantasias!

E como consolo…
…Seu coração.

O coração é a vertigem certa
Que exige a sanidade do poeta!

Na clareza, na transparência,
Foi depositada sua essência,

Mas foi na loucura
Que encontrou a resposta dos seus desatinos!

Os destinos
Lhe são claros,
E de tais lírios,
Tão raros,

Pode ver a teia intrínseca por sobre o jardim!

A vida lhe abre as portas
E assim o exorta:
“Te condeno à ver!”

E ao vulgo com carinho lhe cerra as pálpebras
Deposita-o nas sombras
Dizendo: “Adormecer.”

A vida lhe abre os segredos
E enredos
Em sua mente passa à tecer!

Mas quando quer plasmar seus mundos virtuais
A sorte lhe mostra os dentes cerberais
E fica dele à escarnecer!

O coração é o ponto certo
Que exige a morada do poeta
E quando dessas paragens chega perto

Na paz, na eloquência,
Fica ao alto,
Seus braços à estender!

Quando lhe ruge a fera,
Quando por sobre seus intuitos a morte impera,

Dá as costas,
Com a noite faz promessas e apostas

E, de assalto,
Parece se rejuvenescer!

O coração é da vida a coisa certa
Que exige o coração do poeta:

Se lhe dão menos
Odeia!
Se lhe dão mais
Ateia

Fogo nessa floresta de ilusões!

De fato tem asco de medíocres corações.

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A Fuga

Há algum tempo atrás comentei com a minha amiga Milena Pacheco que lá por volta de 1990 fazíamos um Fanzine Anarquista. Ela disse que não acreditava que tal coisa tenha existido em Limeira, quanto mais naquela época. O fato é, que além dele ter existido, ele foi o segundo.

O “Pus”, como o chamávamos, foi o sucessor do “Vox HC”. Felizmente, meu amigo Luis Simões, guardou uma única página dessa preciosidade devido ao fato de que lá havia uma poesia minha. Então para registrar esse momento histórico de nossa Limeira/SP segue o scan do que remanesceu do “Pus”.

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Página 1
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O texto da poesia segue aqui