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Soneto

No Inferno

Douro-me brandamente deste céu
Que do vermelho agora se tingiu.
Cingiu-me a seu contento e me despiu
De forma, de alento, força e broquel!

Como desci ao absoluto fel?
Imergi-me neste avérnico rio
Que, Narciso de mim, me seduziu?
Assim parti deixando-me ao léu.

A forma já não é nada. Ela parte.
O alento já não me vem. Ele vai.
A alma já não responde. Ela arde

No abismo de sentimentos e culpas!
Onde irei habitar, eu que sem pai
Perdi-me no fragor de tantas lutas?

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Delírios Inépcia Visual Revelação

Psicografando em Línguas

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Considerações

Reflexos – parte v


Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV

V

Me sento na varanda
E digo para mim mesmo
Enquanto os prédios cercam o manto da Deusa:

“Só precisava de um pedacinho de lua.”

E na rua
Argenteas multitudes transcorrem
E escorre da noite o seu sabor.

O manto está lá
E quem teria o valor?
De espelhar-se na Noite
Em reflexo e odor.


Parte VI
Parte VII
Parte VIII
Parte IX
Parte X
Parte XI
Partes XII e XIII (final)

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Suave coisa, suave coisa nenhuma

Do teu dia tomarei apenas esta pequena noite

Do teu dia tomarei apenas esta pequena noite,
Ó doce amada,
E no seu ocaso,
A madrugada,

Derramarei esses floridos versos de purpúrea forma.

É sábio dizer que não há norma
Que faça com que o coração indômito
Adormeça enleado de estranhos sabores.

O rigor, a dureza, o cáustico manar da palavra,
Perseguem a sua alma e a acorrentam à estrada

Da contusão.

Por isso o teu sorriso nunca me será caro o bastante
E sempre na cama me voltarei para o outro lado
Buscando inutilmente algo que estanque
O sangue da ferida feita no meu costado.

A chaga, a crueza, o duro manar dos dias,
Rígidos como rochas,
Austeros como canyons,
Enviam para adiante a minha existência

Empedrada pelos pedaços de madrugadas
Que como esta roubo de mim mesmo e entrego

Ao vazio.

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Dor

O baixar da fronte diante do mar (O possuir do horizonte ao se contemplar)

Mares observo da praia
E ao longe vai o pensamento fortuito
Levado pelas ondas marinhas com o intuito
De seguir o meu querer que diz: “Se esvaia.”

As distâncias que separam
Do longínquo horizonte
Agora não me amparam
E baixo a cerviz, baixo a fronte.

O contemplar do mundo distante,
Bem para lá, esquecido e ocultado,
Forja o sentir do nada causticante
Eternamente por nós arquitetado.

Viaja para o longe…
Que procura olhar meu que sente
As agruras do lacrimejar?

Seriam esculturas a se contemplar?
Seriam pinturas para se apagar?
Seriam loucuras para se delirar?

Ou simplesmente pôr-do-sol
Para o qual se fica a divagar?
Ou puramente amor no atol
Esquecido pelas rocas que o destino antes ficava a usar?

Ah Parcas. Tão parcas e tão Parcas.
São só três
E os fios que cozem e torcem e rompem na nossa tez
Constituem todo o bordado
Que equaciona o aspirado
E faz enclausurado
Quando ruge no telhado
A maresia da imensidão.

De tantos horizontes
Quantos e tantos mais
Deixaremos nos estuprar aos montes
Na praia ou no cais
Buscando na paz
O que a guerra não trouxe?
Buscando no apraz
O que a terra não ouve?

Então para que destilar
Desse mar e desse horizonte
A aguardente do bar
Ou o baixar da fronte?