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Apokolips

O silêncio que infecta

O silêncio que infecta
A máquina abjeta
Que concreta
Proporcionou ao sentir humano
O contemplar de um oceano de sentimentos manufaturados!

O silêncio que infecta o mundo!

A máquina se cala
E resvala a multidão pelos cantos!

A máquina se silencia
Com o silêncio que infecta o mundo!

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Readers Digest

Variação sobre o Lamento de Galadriel

Cantei as folhas, de ouro folhas, e folhas vi brotar:
Cantei o vento e vento veio os galhos farfalhar.
E como ouro caem as folhas ressequidas ao vento
E com elas se vão os anos além da conta e do tempo.
Os anos cheios de lembrança trazem as lágrimas
E estas caem sobre o solo fazendo brotar novas vidas…
A alegria da vida nasce de sua tristeza
E em minhas obras se revela a dor e a beleza.
A vida me foi uma taça cheia de hidromel perfumado
Que beberiquei e degustei bocado a bocado.
Mas vazia agora a taça quem irá novamente enchê-la?
Passada a alegria que outra fonte poderá cedê-la?
E agora entre as árvores dessa floresta que me adotou
Choro a distância que só em sonhos meu espírito cruzou.
Vaguei pelas paragens do sonho desperta
E nelas edifiquei o lar que me alberga…

Agora, desfez-se o sonho…

A magia que como pilar sustentava o mundo em sua tenra juventude
Ruiu e diante dos meus olhos só vejo a final decrepitude.

Ah! Cantei e cantei, mas não há canção que vá ressuscitar essas Árvores oníricas!

Agora, deixarei o lar que me adotou
E retorno, qual criança ao ventre que a formou!
Mas que criança já empreendeu esta jornada sem par?
Que barco me conduziria por tão vasto mar?
Seria realmente um barco assombrado por espíritos?
Me receberia Aman novamente em seus bosques paradisíacos?
E como, pergunto agora, que corrompida pela amargura
Poderei desfrutar novamente da infinita doçura?
Pode a alma que perdeu a inocência
Esquecer o seu caminho e a sua decadência?
E minhas mãos, que sujas pelo árduo trabalho,
Como poderão se tornar novamente imaculadas como na manhã o orvalho?
Ah! Refresquei a folha, mas cai sobre o solo e me tornei lama…
Mas talvez assim arda em meu espírito uma nova chama:
Que deixando de ser orvalho e me unindo ao solo
Nascerá em mim uma nova vegetação que conceberei em meu ventre e acalentarei no meu colo

Ai! laurië lantar lassi súrinen…

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Delírios

Denerek!

Denerek! Por onde caminhavas tu
Por essas passagens gulturais
Desse castelo mal edificado?

Não percebes que alquebrados
Estão o vigia, a porta e os corredores?
Mas, se não se importa,
Só não se perca na vastidão de odores
Que te nausearão até horrores
Perpetrar em tua mente por tais cheiros.

Aqui, já lar de parcos herdeiros,
Carrega entre as sombras vestígios altaneiros
De brumas que carregam a alma das vísceras dos mortos.
Então, não te sumas como quem quer corromper os esforços
Numa mesa de jantar a procura de um garfo.
Pois abaixo da mesa não vão estar expostas as pernas daquela bela senhora esposa de Tarso,

Certo alquímico cristão,
Certo cínico ladrão,
Certo mítico pagão,
Certo mediúnico vilão,

Que sonhava com os esplendores
De um áureo-plúmbeo alvorecer.

Portanto, adivirto-te Denerek!
Aqui, tecer por entre as sombras
Enredos inglórios
Podem produzir alfombras
Empedradas de hieroglifos e esporos.

Chuva de fato,
Não é toda realidade,
Mas exige tato
Que te tente maltratar.

Então não vá pensar
Que é fácil ou volátil
O dirigir de turbas de espíritos
Pelos esgares tísicos
De um leproso.

Afinal, desgostoso
É o corroer de trevas
Pelo que levas
Debaixo dos teus olhos.

Pois de tal globo o movimento de rotação
Pode provocar noites,
Quando admiramos do cérebro a constituição,
Ou dias,
Quando nos deparamos com multidões em peregrinação.

Vêde. Estes muros foram erguidos
Como quem consegue desataviar de si
Falsos sonhos predadores,
Caçadores de mentes insanas
Que asceticamente mundanas
Forjam forjas para Cíclopes e intelectuais baratos,
Mas não foi naquele Da Vinci abstrato
Que se inspirou cada tijolo
Para reunir-se com os demais,
Forjar uma parede para tal quadro ostentar
E figurar da história os anais.

Afinal, a memória pode rolar por entre os escombros destes corredores,
Mas não será de amores que ela vai se impregnar.

Por isso, Denerek, advirto-te!
Não te demonstreis fugaz
No arquitetar de belas paisagens
Inerentes ao Pathernon.
Pois, aqui se se produz som
Ecos te perseguem de forma vivaz!

Não ostenteis na sola do sapato
O gastar que torna opaco
O trabalhar de quem o manufaturou.

Por entre estas escadarias
O trabalho é válido,
Por isso, o cenário,
Não ofendas como se fosse artista
Diante de platéia minimalista
Que fora de vista
Buscará debaixo da cadeira
Aquela goma de mascar “maneira”
Que foi ali grudada em tempos imemoriais.

Para essas escadas
Não forneças degrais
Que, de quatro, dimensões mais
Quererão pular a cada abertura do limbo por sob seus pés.

Não estendeis ao manto este revés
E nem um tapete vermelho no convés.

Afinal, marinheiros os há,
E vários,
Então por que içar velas
Por sobre as seqüelas
De rachaduras na parede
Ou nas loucuras da sede?

Vêde que neste ferrolho
Ao trinco basta estar atado,
Mas se quisesse dançar ao som de Orff por aí,
Ninguém o impediria.
Aliás, sempre teve uma queda pelo balé,
Mas decidiu ser um trinco.

Por isso Denerek,
Se insistires de fato
Nessas caminhadas
Pelas noitadas
Não vos espanteis
Se ouvires ou veres
Chaves executando “O quebra-nozes”
Enquanto martelos as assistem devorando castanhas,
Frutos de barganhas
Com árvores chatas e medíocres.

Ora, essa é a natureza das castanheiras.
Poderiam ter sido ostentadoras de forcas,
Mas preferiram produzir frutos que fazem sucumbir nossas forças
Ou arrebentam nossos dentes quando os queremos devorar.

Bem, Denerek, toma teu roteiro,
Vamos pelo castelo caminhar.

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Delírios

caoNeosfera I

caoNeosfera irricidente
  astroMatecânica oniAusInexistente
   comeAlotológica soniPlastiAudiológica
    feneçóide vermitoCausticante
     diarrenoBlorrágica dianóstica
      embrioMetoPlatinado verdiFosfauticante

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Tédio

É só

É só mais uma rua,
Mais um sonho,
Mais uma despedida,
Mais um confim.

É só mais um canto obscuro
Onde há muros
Dividindo nossos corações.

É só mais uma noite
Onde da verdade o açoite
Castiga a mente do admirador…

Não se importe com a pobreza dos meus versos…

Pois este só foi mais um dia
Em que a monotonia
Abateu meu coração…

Foi só mais um momento
Em que tive o intento
De fazer uma canção…

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Versos Íntimos

Invocação

Chamo das trevas
Um nome perdido no tempo.
Uma criança que dorme ao relento
De um sentimento que só traz pesar.

Chamo da noite,
Um admirador deprimido,
Cujo ar noturno faz perdido
O seu louco coração!

Chamo do tempo
Um ideal esquecido!
Um sonho aflito!
Um louco sonhar!

Que venha até mim agora,
Ó morador e entidade da alma!
Sentí aqui o tempo onde a calma
Há muito se perdeu!

Vinde à mim força do tempo!
Invoco um poder esquecido,
Nas chamas perdido
Do coração teu!

Um coração levado pelo vento…
Um nome de pronunciar lento…
Um vagar irreprimível e louco…
Um adormecer que, de sanidade, tem pouco…

Sonho da Noite,
Volta ao lar!
Pois na tua ausência esse açoite
(A frieza) vem me castigar!

Busca teu lar,
Ó Sonhador!
Faz calar essa insanidade
Que não tem um mínimo de calor!

Caminhaste,
Ó judeu errante?!
E o que encontraste?
Com certeza nenhum lugar para se descansar!

Nasceste,
Cresceste,
Sonhaste,
Voaste,
Caíste,
Choraste
Perdendo o nascer do sol!

E o que ganhaste?
O orgulho de ser um sofredor sem par!
Que amaste?
Tua sombra?! Louco de solitário pesar!

Busca teu lar,
Ó criador!
De contraditas convulsões!
De palpáveis alucinações!

Busca teu lar,
Ó cantor!
Ficaste chorando tanto!
É hora de parar e cantar teu pranto!

Olha para a Luz do Sol!
Deixa ela te transpassar!

Te tirar as sombras da alma.
Secar as lágrimas da tua face.
Te devolver a aparente calma
Daquele que para cantar nasce!

Ergue tua voz!
Encanta o louco e o algoz!
Os pássaros à muito esperam por ti!

Hora de acordar.
Hora de mudar.
Hora de deixar para trás
Essa alma em escombros
Que lentamente se desfaz…

…Essa alma de assombros
Que em dor se contrai.

Lembra quando nasceste?
Foste gestado no útero da mente.
Forjado na resignação decadente
Da observação da multidão esmaecente.

Moldado na filosofia do ser ou não apodrescer.
Do crer ou deixar de ter.
Da loucura dual e confusa do viver.

Tu criança leste os versos
Da decência e da indecência
E em qualquer um desses dois universos
Viveste e viste que não existe a mínima coerência.

Choraste e correste!
Te resignaste e escondeste!
Presenciaste…
…Mas fingiste que não viste!

Hoje, eu chamo teu nome das trevas…
Roubei a tua admiração da noite…
Escondi o teu ideal de um dia…
Te tirei o belo falar…

Que fará?

Vai seguir comigo o caminho da noite
Ou ficará a chorar aí na escuridão?

Sem nome.
Sem olhos.
Sem ideal.
Sem palavras para descrever a tua própria solidão?
Sem falsos sorrisos para aliviar tua frustração?

Ah! Erga-se criança-sonho!
Tu és necessária à sua maneira
Só que em outro lugar!

Sai do relento!
Deixa o tempo ao tempo!
Vêm o mundo desfrutar!

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Apokolips

Na vermelhidão dos teus olhos azuis

Na vermelhidão dos teus olhos azuis
Vi o enfado dos teus dias:
Correr, correr, em busca de um pôr-do-sol
Em que as horas não sejam marcadas pelo martelo e sua batida fria

A labuta se descreve no contorno dos teus calos
E tua história se vê esculpida nas cicatrizes da mão.
Tua disputa, tão breve, e teu doloroso desmaio
Fugirá da memória pervertida dos matizes do chão.

A terra te é um campo de sofrimento
E tudo o que se ergue sobre ela, ela destrói.
Teus olhos em busca do alento no firmamento
Encontram apenas o sol que na luz tua retina corrói.

Tua força que retira da tua obra
Nela volta a depositar,
E teu esforço sempre retorna
Aonde antes veio brotar.

Contar teus dias seria estupidez
Pois comparados pareceriam um só,
E nem os momentos de torpe cupidez
Te salvariam de retornar ao pó.

Mas muitas são as virtudes e os dissabores do lobo:

Na solidão da noite
Onde seu inferno se lança
Uiva pro céu
Despido de esperança.

Corre pela savana
Em busca da fonte e do rio.
Sua força vem da caça
Mas seu espírito do desafio:

De continuar mais um dia sobre a terra,
Carregar o inferno para além do vazio.

E lembrar no dia em que a morte se acerca
De depositar nos ossos toda a dor e todo o frio

Para que no mundo do espírito não tenha na certa
O olhar do moribundo e o pensamento vazio.

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Interlúdio

Nossos olhos jogados ao espaço

Nossos olhos jogados ao espaço
E nossa mente dada aos pássaros,
Assim abraçamos chegando das trevas
À terna luz que nos cega.

E quantas vezes não olvidamos nossa caínica marca
E nem damos ouvidos à mítica Parca
Que nos ensina nos desatares dos fios
Onde nascem e para onde nos levam os nossos rios.

E então brincando de humanidade
Sorrimos à nossa simplicidade
De sob o sol se esgueirar
E nas nuvens formas perpetrar.

E talvez à nenhum outro como à nós,
Filhos de Cain,
Causa tanto prazer essa suave voz
Que enleia a raça dos justos tão sem fim,

Pois sabemos que aos instantes de suave respiração
Segue a dormência dos prazeres
E o iniciar do batalhar e da destruição
Ambos ornados de poderes.

Pois enfim nossa vida cede,
Pois além de toda vitória se perde,
A razão de tantos afazeres…

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L'Art

Já me cai aos seus pés, ó musa cruenta

Já me cai aos seus pés, ó musa cruenta,
Mas mesmo assim não cospe-me na razão!
Hás de viciar-me como se vicia a um cão
No servilismo infindável em busca de comida!

Lamberei eu eternamente os teus pés
E a emitir lamúrias passarei o meu tempo?
Ah! Este velho cão está largado ao relento
E sem dono há de adonar-se.

Adonar-se é um sonho!

Sonho que sonhado em profusão
Jaz em lassidão!
Em vicissitudes se sublima o cão
E de sublimar-se transforma-se num belo pano de chão.

O chão não é o limite para os Lúciferes.
Eles caem eternamente atravessando mundos
E vão para o vácuo eterno cultivar seus títeres.

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AnarcoPoeticSongs: PoeticLongWayDisturb

Quando chego em casa fatigado

Quando chego em casa fatigado
Do meu trabalho assalariado
E olho para o espaço
Sem medir distância ou marcar compasso

Para não perder a hora do Xou da Xuxa:
“Bruxa! Bruxa! Bruxa!” – gritam as crianças la fora,

Enquanto na ponta de uma estaca
A cabeça de uma loira matraca
É levada por essas doces criaturas.
E a cabeça canta com doçura:

“Todo mundo tá feliz!
Todo mundo tá feliz!
Com o dedo no nariz!”

Orfeu sentiria vergonha e exasperação
Se alguém lhe fizesse comparação:

Viva a revolução!

Olho para a televisão
E a estática me dá as notícias do dia.