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Algum Ódio

Maldição I

Minha alma,
Agora em frangalhos,
Jaz na funda sepultura
E do amor,
Frágil escultura,
Se enregela
E se quebra!

Na sua estraçalhada queda
Se converte em pó e vai,
Volvendo ao léu,
Buscar paragens no inferno,
Pois, do eterno,
Não contém mais em si o sabor!

E o ódio dita
As formas da fúria
Que nua e bela
Se ergue e apela
Para a nossa frieza!

Exige o cuidado da vingança
E sua esperança
É ver fenecer o inimigo
(Amor perdido
Que em ódio se transforma)!

E quando tal pensamento transtorna
Pede a animalidade
E condena a humanidade
Ao mais fundo jazido!

Quando consigo
Perpetrar a injúria derradeira
Rasgo as faces com as unhas
E deixo que as horrendas moedas que cunhas
Se transformem no próprio pagamento pela tua cabeça!

Pois antes que a vida novamente te ensoberbeça
Verei a ti prostrada aos meus pés
E réles verá a ânsia morrer no vácuo…

Maldita!

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Certas mulheres

A libido torna-se palpável

A libido torna-se palpável
E toma forma.
E com seus novos trajes corporais
Se adorna

E sem demora diz:
“É aquela mulher
Com a qual meu desejo condiz!”

E assim pela volúpia acercada
Se vê em êxtase enredada
Tal qual adolescente no regaço da amante.

Em tal prisão se vê triunfante.
Em tal claustro se faz viandante

Pela imaginação luxuriosa
Que cria cenas seviciosas
Servindo à serpente à sarça enroscada ardente.

E tal qual esse réptil inconsequente
Queria fincar meus venenosos dentes
E roubar da vida,
E em meio à vida convalescente,
A carne dessa mulher que dos seios melonáceos possuidora
Jaz no rol das sedutoras
Capazes de fazer à outrem
As insinuações do êxtase e da dor.

Tão duro conquistar-lhe pela flor.
Tão difícil levá-la ao leito de amor

Quando das paragens vespertinas
É a inerência do desejo
Ou quando nossas propinas
São tão parcas que nos provocam o medo
De perder a oportunidade única
De roubar-lhe sequer um beijo.

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Não.

Não.
Das tétricas furnas
Não quero saber nem a metade
Das histórias noturnas
Que permeiam a incerteza
Ponderando se a frieza
Seria o caminho ideal.

E de banal em banal
Se fez montante colossal
De vespas e bestas,
Adeptas da colméia hilariante
Onde juntam-se soldados
Por juntar-se simplesmente
Enquanto operários ao mel assalariados
Batem seu cartão vespa-vespertinamente.

E se Lúcifer
Não ditasse as regras
À Estrela da Tarde
Como Estrela da Manhã que é,
Que se faria das cegas
Que vagueiam por sob o sol que arde!?

Não haveria ardil que ostentasse
Ou forma que reinasse
Com seu pétreo trono
Sobre esse reino de “flashes” vermelho-sanguíneos
E sombras verde-purpúreas.

No entanto, na caixa de 32 lápis Faber-Castell
Se depositou todo o segredo de uma criança
Que não sabia o que era giz pastel
Mas estava disposta à barganhar com o demônio
Se precisasse atirar sua alma estúpida ao lôdo.

E no todo
   Verseja
    O mundo
      Que num segundo
        Imundo
          Se mantém
            E retém
              O movimento
                Opulento
                  Das potestades,
                    Majestades
                      E tropas
                        De Ases de Copas
                          Atirados sobre a mesa
                          De incerteza
                            Em que apostamos tudo
                              E não levamos nada
                                Que dissecada
                                  Não se demonstre vazia.

E na pia
Uma navalha espera um pulso.
E no sofá
Uma alma espera o impulso
Que faça a lâmina avançar.

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Metamorfoses de mim

Metamorfoses de mim
Foram expostas aqui
Para o público se divertir.

Quadros em exposição,
Molduras em esmaecência
Perdem por entre a decadência

A razão de se ostentar imagens por sobre um jardim de esferas de cristal.

Não seria de todo mal
Se sequer um jasmim
Quisesse crescer por aqui,

Mas, sob esse céu esbranquiçado,
Tendente à aparência do gessificado,
Só flutuam esses quadros de pública admiração
E esses mundos de vítrea formação.

Relva verde se espalha
E mortalha por sobre nossos olhos
Falha quando seguramos um universo.

Roubá-los do ar,
Tantos que são,
Não exige o arquitetar
De nenhum plano vilão.

Basta estender a mão ao alto
E roubar da árvore onde frutifica tanto dióxido de carbono como oxigênio
Retirando de sua flutuação
Esse círculo 3D de formato homogêneo.

Contemplá-lo é como rir da sombra
Que viaja rumo ao nascente
Fugindo do avançar do sol para o poente.

Atirá-lo numa moldura
É ver escorrer seu transparente sangue
Dissolvendo aquela imagem da loucura.

E se prisma fosse
E o prisma não fosse
Vegetariano
Decomporia o espectro arco-iridiano

Nas luzes do sol.

Agora,
Luzes por luzes,
Fica por isso mesmo:

Seduzes
Lilases
Fugazes
E és esfera por fim.

Por isso, sento-me toda tarde no meu jardim
E fico à contemplar as metamorfoses de mim.

 

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Introitus, Dies Irae, no Kyrie Eleison for me

Após “séculos” perseguido por folhas amareladas (não importa onde as aprisionasse, não havia armário, gaveta, sótão, que as mantivesse muito tempo longe da minha mente), decidi finalmente publicar as minhas insanidades de alguma forma. Não como quem tem alguma pretensão à grandiosidade mas, com mais acerto, como quem tem uma pedra no sapato por 20 anos e então, sem muita pressa, começa a pensar que precisa fazer algo a respeito.

A idéia deste blog é publicar material alternativo ao meu livro, que surgirá por aí nos meses vindouros.

Poderia desejar uma boa leitura, mas realmente não credito que isso vá acontecer…

(José Au)Gu(s)to Meirelles

PS: Lacūs: latim nominativo plural para “lago”. Registrar domínios ultimamente exige criatividade.