Em determinada noite, como sempre fria,
Morreu uma tenra Filosofia.
Sua vida foi reta e justa
E seus ares sempre a fizeram augusta.
Sua assassina foi a Mudança de Opinião.
Esta há muito lhe veio sorrateiramente,
Com conversas singelas, cheia de razão,
E quando não se esperava, cravou-lhe uma faca no coração.
Levada à julgamento
A todos fez ver
Que o seu assassínio
A alguém fez crescer.
E estava absolvida já
E todos lhe davam a mão
Quando chegou a última testemunha:
A Razão.
Esta última disse:
“Eu tudo presenciei.
Inclusive os fatos que depois transcorreram
Aqui a todos relatarei.”
“Foi num dia de imensa frustração
Que a Mudança de Opinião atacou,
E, sua aliada, a Opinião Alheia,
Muito lhe ajudou.”
“Viu-se a Filosofia atacada pela Sociedade.
Fugiu e encontrou a Solidão
Que só horror lhe causou.
Tentou defender-se e só um cão lhe escutou.”
“Mas, com coragem única lutou
Até que o Desejo consigo cruzou
E perguntou-lhe – Qual seu sentido?
E ela enfraquecida e sem resposta desmaiou.”
“Mudança de Opinião,
Que como traidora lhe acompanhava,
Viu seu corpo caído
E desferiu seu golpe que em covardia se ocultava.”
“A Filosofia morreu desacordada senhores.
Pois se estivesse desperta
Não conheceria tais horrores.”
“Não sei dizer qual o seu sentido
Não sei dizer se certa estava
A Mudança de Opinião.”
“Só sei uma coisa:
A Filosofia à muitos homens
Deu valor e coração.”
“E mais,
Filosofia foi morta,
Em meio a uma grande armação.”
“E os fatos que transcorreram depois
Creio que todos sabemos.
Nossos pensadores e contestadores perdemos.”
“O mundo perdeu as rédeas
E seus corcéis tem sido
Insanidade e Injustiça.
Loucos ambos em sua corrida.”
Depois disso a Razão silenciou-se.
Dizem as lendas que, Filosofia,
Na verdade não morreu: transformou-se.
E hoje é cortejada pelos bêbados,
Vendida nos prostíbulos,
Usa batom e sai aos sábados.